ESTUDO DE US$ 100 MILHÕES PODE DESCOBRIR A CURA PARA ALZHEIMER
Fomos à Colômbia ver como vivem os portadores de uma rara mutação genética que os condena a manifestar a doença aos 45 anos. Eles são alvo de um novo estudo que poderá desco
br
ir um tratamento contra o mal.
Yarumal, centro-oeste da Colômbia.A cidade de 40 mil habitantes tem centenas de pessoas com o mesmo problema de Alba, mas não é um reduto de idosos nem um centro de tratamento. Yarumal fica na região mundial com o maior número de portadores de uma raríssima mutação genética. Todos os que têm essa mutação irão desenvolver Alzheimer. E pior: o mal se manifestará, destruindo memória e outras capacidades mentais dessas pessoas, muito cedo, quando estiverem com cerca de 45 anos (a doença costuma atacar a partir dos 65). Pesquisadores estimam que 5 mil parentes de Alba (próximos e distantes) possam ter a mutação. Mas o trágico destino impresso no DNA desses familiares virou também uma das maiores esperanças de se descobrir uma prevenção ou cura para a doença desde que, em maio, os Estados Unidos anunciaram que farão um teste clínico de US$ 100 milhões na região.
As drogas disponíveis hoje conseguem, no máximo, barrar o avanço do Alzheimer que, passo a passo, compromete o cérebro. Mas ninguém sabe como evitar ou reverter o quadro. O Crenezumab, remédio que começará a ser testado nos colombianos com a mutação a partir de 2013, pode trazer respostas para essa questão. O teste com o fármaco será financiado pelo governo americano, pelo Instituto Banner Alzheimer e pela farmacêutica Genentech, que produz o medicamento.
Cerca de 10% dos casos de Alzheimer é causado por um erro no DNA. Pacientes como Alba são importantes “porque há a certeza, mesmo antes dos sintomas, de que o mal se desenvolverá”, diz Richard Scheller, vice-presidente de pesquisas da Genentech. Para entender o teste, é preciso saber que uma das características do Alzheimer é um aumento da concentração no corpo de um fragmento de proteína chamado beta-amiloide. “Em alta concentração, essa substância começa a formar pequenas estruturas, que são tóxicas”, diz Sérgio Ferreira, chefe do laboratório de Doenças Neurodegenerativas da UFRJ. As estruturas também acabam por formar placas no cérebro das pessoas afetadas.
Uma das hipóteses mais aceitas pelos cientistas é que esses aglomerados e placas seriam os principais responsáveis pelos sintomas do Alzheimer. A droga que será dada aos colombianos tentará impedir as formações de beta-amiloide (veja mais no infográfico da pág 81). “Se, na idade que deveriam desenvolver o mal, os voluntários não tiverem as perdas cognitivas esperadas, isso pode ser o primeiro passo para uma forma eficaz de prevenção e tratamento”, diz Gary Small, psiquiatra da Universidade da Califórnia. Small publicou em fevereiro uma pesquisa mostrando como, através de um scanner cerebral, é possível detectar essas mudanças no cérebro anos antes dos sintomas aparecerem. “Essa técnica poderá ajudar no estudo”, diz.
Os cientistas colombianos investigam os casos desde 1982. Lopera, que hoje comanda uma equipe de 50 especialistas na Universidade de Antioquia, construiu uma imensa árvore genealógica das pessoas que sofriam do mal (chamado pelos locais na época de “la bobera”) e confirmou se tratar de uma forma de Alzheimer. “Esse é provavelmente o maior grupo familiar com uma doença neurológica isolado geneticamente do mundo”, diz Lopera, referindo-se ao clã de 5 mil pessoas, das quais 662 já foram confirmadas como portadoras da anomalia.
Com a ajuda de pesquisadores americanos, o neurologista colombiano identificou qual era a mutação responsável pelo Alzheimer precoce em 1995. “A partir disso começamos a procurar empresas farmacêuticas e instituições que pudessem financiar testes clínicos. Mas a comunidade científica não estava preparada e, além disso, ainda era uma época de confusão na Colômbia”, afirma Kenneth Kosik, da Universidade de Santa Bárbara, um dos líderes dos testes clínicos e parceiro dos colombianos nos estudos há 20 anos. A confusão à qual Kosik se refere é o fato de que a região onde se concentra os portadores da mutação incluiu Medellín que, até 1993, abrigava o cartel produtor de cocaína mais conhecido do mundo. As farmacêuticas não estavam dispostas a arcar com o risco.
Revista Galileu
por Renato Pizarro Yala e Tiago Mali
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