Terapia com vírus para combater câncer é primeira a obter sucesso
Testes clínicos foram conduzidos em 23 pacientes com a doença.
Micro-organismo conseguiu afetar somente tecidos malignos.
Pesquisadores da Universidade de Ottawa, no Canadá, e de outras instituições de ensino divulgaram os resultados da primeira terapia com vírus para combater câncer. Os dados foram divulgados na edição desta semana da revista científica "Nature". Os testes clínicos mostraram que a técnica pode ser usada em tecidos com câncer sem afetar os saudáveis.
Os testes foram feitos em 23 pacientes, sete deles atendidos no Hospital de Ottawa. Todos tinham câncer em estágio avançado e espalhado por diversos órgãos do corpo. O tratamento convencional já não surtia efeito.
Eles receberam uma injeção que continua um vírus chamado JX-594 e passaram por biópsias - a retirada cirúrgica de tecidos cancerígenos para análise em laboratório - 10 dias depois. Sete de oitos pacientes no grupo que recebeu as maiores dosagens da terapia viral apresentaram evidências da reprodução do micro-organismo somente nos tecidos malignos. Os órgãos não afetados pela doença não foram "infestados" pelo vírus.
Os efeitos colaterais apresentados foram gripes moderadas, com sintomas que duraram menos de um dia. Segundo os médicos, é a primeira vez na história da medicina que uma terapia viral por injeção na veia demonstrou selecionar apenas o tecido afetado pela doença para agir.
Conseguir injetar a medicação na circulação do paciente é importante para os especialistas, pois permite atingir tumores espalhados em todo o corpo. Outra vantagem seria a possibilidade de expressar genes "estrangeiros" dentro dos tumores, o que possibilitaria novos alvos para terapia contra o câncer
Ainda que não tenha sido o propósito principal do estudo - ou seja, ver se o vírus conseguia se integrar com segurança apenas ao tecido com câncer -, os canadenses destacaram que a atividade anti-câncer também foi estudada. Seis dos oito pacientes que receberam as maiores doses da terapia apresentaram estabilização e até diminuição dos tumores.
Apesar dos avanços, os médicos destacam que outros estudos ainda são necessários para provar que a nova técnica é eficiente no tratamento do câncer. Testes clínicos costumam ser divididos em até três fases, sendo a última realizada com um número grande de pacientes.
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